Notícias
De
Até
Uma placa de aço inaugurada na ALMG traz os nomes das vítimas da tragédia e um trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade - Foto: Willian Dias
Andresa Rodrigues, que perdeu o filho, disse que as famílias estão presas à fatídica data da tragédia
Andresa Rodrigues, que perdeu o filho, disse que as famílias estão presas à fatídica data da tragédia - Foto: Flávia Bernardo
A tragédia na barragem da Vale tirou a vida de 272 pessoas, 11 delas ainda não encontradas
A tragédia na barragem da Vale tirou a vida de 272 pessoas, 11 delas ainda não encontradas - Foto: Willian Dias
Vítimas da tragédia de Brumadinho ganham homenagem da ALMG
- Atualizado 03/02/2020 15:37

Emoção marca cerimônia em memória das vítimas de Brumadinho

Nesta quinta (23), ALMG realizou evento com famílias de pessoas que morreram no rompimento da barragem da Vale em 2019.

A emoção do luto, ainda presente, pela morte das 272 vítimas do rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (Região Metropolitana de Belo Horizonte), ocorrido em 25 de janeiro de 2019, marcou a solenidade realizada nesta quinta-feira (23/1/20).

Promovida pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a cerimônia teve a presença de familiares dos 261 mortos confirmados oficialmente, sendo dois nascituros, e das 11 pessoas que ainda não foram encontradas na lama proveniente dessa tragédia. Também participaram parlamentares, autoridades dos Poderes Executivo e Judiciário, além de representantes das Polícias Militar e Civil, Corpo de Bombeiros Militar (CBM), Defensoria e Ministério Públicos.

Foram lidos os nomes da cada uma dessas vítimas, ao que os participantes, cada um com uma rosa na mão, respondiam “presente”. Essa foi a forma encontrada para demonstrar que a memória dos que morreram debaixo dos escombros da barragem não se perderá e que os vivos continuarão a lutar por justiça.

Logo após os pronunciamentos, foi inaugurada em frente ao Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira uma placa de aço que tem gravados os nomes de todos os atingidos pelo desastre social e ambiental. A obra traz o contexto do acontecimento e um trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade, Lira Itabirana: “Quantas toneladas exportamos de ferro? Quantas lágrimas disfarçamos sem berro?”. Também foi executado o toque de silêncio por um integrante da PMMG.

“Assassinatos brutais, com requintes de crueldade”

Andresa Rodrigues, vereadora e professora de Mário Campos (RMBH), disse que ela e os outros familiares estão presos à fatídica data da tragédia. Mãe de Bruno Rodrigues, também morto no rompimento, ela afirmou emocionada que seu filho e todos os outros foram assassinados de forma brutal.

“Não é motivo de alegria estarmos aqui. Gostaríamos de estar em casa, cuidando de nossas joias, os nossos filhos, o mais importante para nós”, reforçou. Responsabilizando a Vale pelas mortes, Andresa declarou estar perplexa ao lembrar que a mineradora havia matado 272 pessoas. “Ela sabia que a barragem estava condenada. O que foi negociado com os laudos falsos comprados pela Vale foi a vida das nossas joias”.

Também sob forte emoção, se expressou Geraldo Resende, que perdeu na tragédia a filha e o genro e, agora, luta para criar os dois netos filhos do casal. A filha dele é uma das 11 vítimas ainda não encontradas. Ele pediu aos deputados que continuem apoiando as famílias e o Corpo de Bombeiros, para que não cessem com as buscas dos corpos.

Aos prantos, Andressa endossou a fala reafirmando que os familiares não aceitarão que “qualquer corpo fique debaixo da lama”. Agradeceu aos bombeiros pelo trabalho incansável. Quase um ano após a tragédia, as equipes de resgate continuam com operações de busca. E criticou a expressão “desaparecidos” como forma de tratar as vítimas não localizadas: “Essas pessoas não estão desaparecidas. Nós sabemos onde estão: debaixo da lama”.

Assembleia permanece de luto

O presidente da ALMG, deputado Agostinho Patrus (PV), voltou a dizer que a Assembleia estava de luto quando aconteceu o rompimento e que assim permanece até hoje. “Fizemos este ato pensando nas famílias das vítimas para que permaneça a memória das pessoas que se foram”, destacou.

Ele complementou que um crime como o de Brumadinho não pode ser esquecido. E justamente por isso a Assembleia vai, logo na abertura dos trabalhos deste ano, apresentar dois projetos de lei. O primeiro para decretar luto oficial do Estado em todo dia 25 de janeiro. “Todos que passarem pelos órgãos públicos vão lembrar desse crime, responsável pelo maior número de mortes de pessoas num único evento. Esse erro terrível passará para a história”, reforçou.

Obras - Outro projeto anunciado pelo chefe do Legislativo é o que prevê que as obras realizadas com recursos da Vale, provenientes de reparação financeira pela tragédia, tenham afixadas placas com os nomes de todas as vítimas. Segundo o presidente, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), divulgou que a Vale estaria entrando em acordo com o governo para custear inúmeras obras. “Essas iniciativas não amenizam a dor. O melhor seria que essas pessoas estivessem vivas, com suas famílias. Mas fizemos questão de fazer estas homenagens para mostrar que a Casa vai lutar para que seja preservada a memória desse trágico acontecimento", disse.

Depois de agradecer aos diversos órgãos que ajudaram as famílias logo após a tragédia, ele enalteceu o trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Barragem de Brumadinho, na pessoa do presidente Gustavo Valadares (PSDB), presente à solenidade.

Durante a entrevista coletiva concedida antes da cerimônia, Agostinho Patrus exaltou a atuação do grupo de trabalho da Barragem de Brumadinho, instituído pela CPI: “É um trabalho inédito que fazemos, de acompanhar as recomendações da CPI; uma delas acabou de ser cumprida pelo Ministério Público, com o indiciamento de implicados no crime”. E concluiu que “a ALMG vai buscar fazer justiça a cada um das 272 vítimas”.