Últimas Notícias


Notícias

Deputadas discutem o atendimento remoto a mulheres vítimas de violência durante isolamento social - Foto: Guilherme Dardanhan
Patrícia Habkouk cobrou regulamentação de lei que trata do registro de ocorrência através da delegacia virtual
Patrícia Habkouk cobrou regulamentação de lei que trata do registro de ocorrência através da delegacia virtual - Foto: Guilherme Dardanhan
Ocorrência de violência contra a mulher de forma on-line deve ficar disponível ainda este mês

Atendimento a mulheres se reinventa durante pandemia

Autoridades alertaram para o crescimento da violência contra a mulher e pontuaram importância de leis aprovadas na ALMG.

As mulheres brasileiras vivem uma pandemia dentro da pandemia. Desde 2013, a Organização Mundial da Saúde afirma que a violência contra mulheres é um problema global de saúde de proporções epidêmicas, além de uma grave violação dos direitos humanos.

A afirmação foi feita em audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nesta sexta-feira (5/6/20), que debateu a situação das mulheres durante a pandemia da Covid-19 e o aumento da violência doméstica durante esse período.

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

A promotora de justiça e coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (MPMG), Patrícia Habkouk, afirmou também que o Brasil é o quinto país do mundo mais violento contra as mulheres, e Minas Gerais tem um infeliz destaque entre o número de feminicídios.

Foram 148 mil boletins de ocorrência em Minas nos últimos três anos, com uma média de 150 mulheres mortas em Minas,por feminicídio. "E se ampliarmos para o feminicídio tentado, no qual as mulheres sobrevivem, temos uma média de 426 vítimas por ano, nos últimos 3 anos". Só esse ano 36 mulheres foram mortas por feminicídio.

Legislação protetiva é considerada fundamental

A promotora destacou o importante papel da ALMG na aprovação de leis fundamentais para o enfrentamento da violência contra a mulher durante o período de isolamento provocado pela pandemia.

Por muitas mulheres estarem isoladas em casa, controladas por seus parceiros, mais expostas ao álcool e às drogas, o acesso à delegacia para denúncias e para a emissão de medidas protetivas, previstas pela Lei Maria da Penha, está dificultado. “Por isso precisamos da regulamentação da Lei 23.644, de 2020 o mais urgente possível. Em vários estados já existe a possibilidade da vítima fazer a denúncia pela delegacia virtual, além de pedir sua medida protetiva", cobrou do governo.

Ela também destacou a aprovação das leis 23.63423.643 e 23.645, todas de 2020, que preveem a utilização de agentes comunitários de saúde na prevenção da violência doméstica, a informação pelos condomínios de casos ocorridos nas suas dependências, entre outras medidas de proteção social e de enfrentamento da violência contra a mulher. “Só em BH tivemos uma queda de dois terços em pedidos de medidas protetivas. Isso é muito sério e mostra a necessidade de atuação para garantir às mulheres o acesso à rede de proteção”, completou.

Chefe do Departamento Estadual de Investigação, Orientação e Proteção à Família (PCMG), Carla Cristina Oliveira Santos Vidal reforçou que durante a pandemia as delegacias da mulher estão atendendo presencialmente 24 horas por dia, com trabalho imediato e presencial. “Mantivemos o atendimento a ocorrências com conduzidos pela polícia, vítimas encaminhadas, precisando de abrigamento. Os demais temos feito de forma remota, via telefone ou Whatsapp, para evitar a ampliação de casos de Covid-19", explicou.

Ela ressaltou que foram mais de 900 chamadas no Disque Denúncia 180 realizadas de janeiro a abril. A maior parte delas aconteceu durante o isolamento social. 

A desembargadora superintendente da Coordenadoria da Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar, Alice de Souza Birchal, falou de um plano de ação de comprometimento dos Tribunais de Justiça de todo o País para a realização de uma ação de combate à violência, que deverá acontecer até o dia 10, com as farmácias como ponto de apoio. “Não posso dar detalhes dessa campanha nacional, mas estamos comprometidos a maximizar o acesso aos nossos serviços judiciais mesmo em tempo de pandemia”, afirmou.

Denúncia - A diretora de Comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Denize Ornelas, denunciou a exoneração da equipe do Ministério da Mulher responsável pelas questões de direito sexual e reprodutivo, após publicação de uma nota técnica pedindo ao governo federal que mantenha o atendimento durante a pandemia.

“Querem ameaçar as profissionais que garantem o direito ao DIU, anticoncepcional, atendimento de vítimas de violência sexual a milhares de mulheres em todo o País. Mulheres pobres e periféricas dependem disso. Mulheres em situação de rua, trans, em prostituição, cada vez mais agredidas e em vulnerabilidade", disse.

A coordenadora de Política para Mulheres da Secretária de Desenvolvimento Social (Sedese), Jailane Devaroop Pereira Matos, disse que a pandemia provocou uma reinvenção necessária, para que as respostas de atendimento continuassem a ocorrer mesmo durante o isolamento social.

Ela citou a manutenção e monitoramento realizados pelo Projeto Sistema Estadual de Redes em Direitos Humanos (SER-DH). “Fizemos campanha em abril para mostrar que a mulher em distanciamento social não está sozinha e que ela pode acionar o 190 para casos emergenciais. Também temos feito reuniões da rede de enfrentamento e estudado ampliar essa campanha com a Rede Minas e usando os SMS da Defesa Civil para que mulheres recebam informativo”, explicou.

A presidenta da comissão, deputada Andréia de Jesus (Psol), enfatizou que pessoas que morrem de Covid-19 são aquelas que não tem o isolamento social como opção, porque precisam de segurança alimentar e continuam trabalhando, especialmente em trabalhos essenciais. “São mulheres que chefiam famílias e não podem deixar de estar presentes. Precisamos fazer esse recorte socioeconômico étnico e racial”.

A deputada Celise Laviola (MDB) propôs moção de apoio a Mirtes Renata de Souza, mãe de Miguel, criança de 5 anos que caiu de um prédio em Recife, porque a empregadora de Mirtes não quis cuidar do menino. “Cada vez que uma criança é agredida, uma mulher é agredida também".

As deputadas Leninha e Marília Campos, ambas do PT, e a deputada delegada Sheila (PSL) apoiaram a colega e todas assinaram o requerimento.