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Retorno às aulas presenciais em Varginha é condenado em audiência
Comissão debateu com a comunidade local a retomada de aulas em Varginha - Foto: Guilherme Bergamini
Valéria Morato, do Sinpro, avalia que o distanciamento em escola é difícil
Valéria Morato, do Sinpro, avalia que o distanciamento em escola é difícil - Foto: Guilherme Bergamini
Mãe de aluno, Roseli Bandeira cobra vacina também para as crianças
Mãe de aluno, Roseli Bandeira cobra vacina também para as crianças - Foto: Guilherme Bergamini

Sem vacina, aula presencial em Varginha é criticada

Professores e pais relatam medo diante da Covid-19 e dizem haver falta de diálogo com a prefeitura.

Mais vacinas contra a Covid-19, inclusive para as crianças, foi a condição apontada por professores, sindicalistas e pais de alunos de Varginha (Sul de Minas) para a volta responsável às aulas presenciais no município.

Em audiência da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta terça-feira (8/6/21), eles relataram situações de estresse causadas pela reabertura das escolas, após autorização da prefeitura no dia 3 de maio, quando Varginha estaria no segundo lugar entre os municípios de sua macrorregião com maior taxa de transmissão.

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

O presidente do Sindicato dos Profissionais do Magistério da Rede Pública Municipal de Varginha, Nelson Andrade, afirmou que a categoria nunca fez da educação remota a sua opção. “Mas agora se trata de uma necessidade”, frisou, ao argumentar que preservar a vida exige nesse momento retardar um pouco a volta das aulas presenciais.

Ele defendeu que as instituições atuem nessa direção, para que, em conjunto, seja encontrado o melhor momento de retomar a atividade em sala de aula sem que haja a naturalização da morte. 

Segundo Nelson Andrade, Varginha tem 11 mil alunos na rede municipal e mil trabalhadores na educação. Levando em conta que esse público interage com outros fora da escola, ele estimou que as aulas presenciais provocam 25 mil contatos por dia só na rede municipal,  o que na sua avaliação eleva muito o risco de contaminação sem uma vacinação em massa.

Para tratar da questão, o sindicato vem buscando desde dezembro do ano passado dialogar com o município, sem ter obtido êxito até agora, de acordo com seu dirigente. Além dessa dificuldade, ele relatou que há líderes empresariais locais favoráveis ao retorno e se queixou de situações em que professores são chamados de “pessoas medrosas que fogem à sua responsabilidade”.

Citando que a vacinação de trabalhadores da educação foi iniciada no município nesta segunda (7), o representante da categoria insistiu em mais tempo para que a retomada do trabalho presencial se dê com mais segurança.

Sindicato vê ambiente de risco

“Escola não é como bar, supermercado ou shopping, onde você vai e mantém o distanciamento que quer”, afirmou Valéria Morato, presidenta da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil e também do Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro-MG).

Também criticando a volta às aulas em Varginha, ela disse que a escola, ao contrário de outros estabelecimentos, tem ambientes fechados e que crianças precisam de contato social, fatores que aumentam o risco de contaminação.

Para reforçar sua fala, Valéria Morato disse que estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) sobre o contágio na educação teria mostrado que no primeiro trimestre deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado, houve um aumento de 106,6% nos desligamentos de profissionais celetistas da educação em geral.

No ensino fundamental teria se dado o maior crescimento no índice de desligamentos no período, de 162%, ficando em 65% o aumento na educação infantil. A sindicalista ressaltou que esses dados não são coincidência, estariam relacionados ao retormo às aulas.

Canal de denúncias - A presidenta do Sinpro também relatou que a entidade abriu um canal de denúncias para a categoria em Minas, entre as quais a superlotação de salas, que está entre as mais citadas. Outras críticas comuns são a falta de testes em casos suspeitos e a continuidade na função de trabalhadores com sintomas, ainda que sem confirmação.

Ainda segundo Valéria Morato, há também denúncias de trabalhadores pressionados a assinar documentos assumindo a responsabilidade no caso de contaminação ou de sequelas relacionadas à Covid-19.

Pais temem por crianças sem vacina

Mãe de um aluno da Escola Municipal São José, Roseli Bandeira também defendeu que as aulas presenciais em Varginha sejam adiadas, manifestando preocupação com os cuidados adotados pelas diversas famílias.

“Não é fácil acompanhar os filhos em casa, mas precisamos manter isso por mais tempo para a segurança também das crianças.  Para elas ainda não há vacina, o que pode ter consequências terríveis. Sem falar que o aluno pode levar o vírus para casa”, afirmou.

Diretor estadual do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-Ute/MG) e também pai de aluno, Abdon Guimarães disse que não há justificativa para aulas presenciais enquanto pacientes estão se tratando em casa porque hospitais estão lotados.

Maria José Mendonça, do Conselho Municipal de Educação de Varginha, informou que a questão da volta às aulas não foi levada para discussão nessa instância. “Nenhuma escola, por melhor que fosse, estava estruturada para enfrentar uma pandemia como esta. Alegam ter feito adaptações, mas, por mais boa vontade que exista, elas esbarram em dificuldades de espaço, ventilação e acesso”, alertou.

Maria José também condenou argumentos favoráveis à volta às aulas no atual cenário, como a necessidade de se acolher jovens vulneráveis ou de fornecer alimentação, por meio dos kits merenda.

Problemas sociais - No seu entendimento, esses argumentos transferem para o individual questões que são do coletivo e para as quais haveriam, ou deveriam haver, políticas públicas de segurança alimentar e de proteção social.

“Esses são problemas sociais, é preciso entender o papel do magistério, estão confundido”, reforçou a professora Humberta Porto, dos centros municipais de educação infantil Hortência Corina Ferreira e Nave Mágica. Ela fez ainda um apelo para que as autoridades ouçam todos os profisisonais da educação, não apenas os diretores das escolas, para a tomada de decisões.

Já Mônica Cardoso, diretora do Sinpro-MG, leu mensagens enviadas por diversos trabalhadores da educação pedindo ajuda e relatando ameaças e pressões para o trabalho presencial. "Vamos adoecer. O protocolo não funciona, é só para inglês ver. Estamos sem sabonete líquido, há disputa de álcool em gel”, diz uma das mensagens.

Para deputados, retorno é precoce

“O momento é complicado, estamos às portas de uma terceira onda, com notícias de colapso na saúde”, advertiu o deputado Professor Cleiton (PSB), que pediu a audiência juntamente com a presidenta da comissão, deputada Beatriz Cerqueira (PT).

Os dois deputados, assim como os demais convidados, criticaram a ausência de representantes da secretaria municipal de Educação de Varginha e avaliaram que está havendo uma retomada precoce das aulas, sem a contrapartida de uma ampla imunização.

“Pelas notícias, o Brasil já é o País com maior número de mortes de crianças em todo o mundo. É hora de retomar aulas presenciais nesse cenário?”, indagou Professor Cleiton sobre a situação também dos alunos.

A presidenta da comissão disse que audiências sobre o assunto têm sido realizadas não por ela ser contra a volta às aulas, mas porque o retorno precoce, sem as adequações necessárias no ambiente escolar, estaria provocando insegurança. “Todo dia recebo notícia da morte de um trabalhador da educação (por Covid-19), seja de  auxiliar, especialista, professor, assistente ou técnico”, denunciou a deputada.

Beatriz Cerqueira ainda fez críticas à fala do governador Romeu Zema (Novo) de que, conforme relatou, a contaminação de rebanho ajudaria a conter a Covid-19. Ela destacou, por outro lado, que julgamento iniciado no último dia 27 de maio, no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, foi favorável em parte, até o momento, a dois mandados de segurança impetrados pelo Sind-Ute/MG questionando o retorno das aulas presenciais.