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A diretora Yolanda Dias e o estudante Vinícius Felipe são o retrato de uma escola renovada em Divinópolis
A diretora Yolanda Dias e o estudante Vinícius Felipe são o retrato de uma escola renovada em Divinópolis - Foto: Lia Priscila

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Escola aprende lição do PPAG e supera violência

Revisão do Plano Plurianual feita pela ALMG foi decisiva para difusão de estratégia pela promoção da paz.

“A violência por aqui é coisa do passado”. A frase, dita em um tom que mistura alívio e esperança, é de Yolanda Sebastiana Dias, 57 anos, 34 deles dedicados à educação, diretora da Escola Estadual Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Divinópolis (Centro-Oeste). Situada em uma das áreas com maiores índices de criminalidade no município, às portas da temida Favela da Lajinha, reduto do tráfico de drogas no Bairro São João de Deus, a instituição deixou para trás dias sombrios que fizeram dela uma referência negativa, transformando-se em um exemplo de que é possível instaurar a cultura da paz nas escolas.

Vários fatores contribuíram para o sucesso da escola, que passou do último lugar no Proalfa, sistema de avaliação do ensino público mineiro, para o segundo lugar na rede estadual em Divinópolis. Entre esses fatores, há uma boa dose de coragem da “Dona Yolanda”, como ela é conhecida entre seus alunos, mas a diretora reconhece que teve muita ajuda. Parte dela veio da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Por meio da revisão do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG), ainda no ano passado, o Legislativo mineiro garantiu os recursos necessários para que Yolanda e outros educadores espalhados pelo Estado aprendessem novas estratégias para lidar com a violência no meio escolar. No caso do trabalho desenvolvido desde o início do ano na Escola Estadual Nossa Senhora do Sagrado Coração, um novo impulso foi dado a partir de agosto, após a realização do II Fórum Regional de Promoção da Paz Escolar e de Articulação em Rede (Forpaz), promovido pela Superintendência Regional de Ensino de Divinópolis.

Autoestima – “Nosso maior problema, em última instância, era a baixa autoestima dos nossos alunos, reflexo também da carência de suas famílias. Tudo aqui era pretexto para deflagrar a violência, uma palavra mal colocada, um gesto, até mesmo um olhar” recorda Yolanda. Além da ameaça constante do tráfico, eram frequentes as brigas dentro e fora da escola. Professores foram agredidos, todos se sentiam acuados. “Ninguém queria mais trabalhar aqui. No Forpaz, aprendi o valor de instituir uma gestão mediadora de conflitos, que, apesar de parecer complicado, nada mais é do que mostrar que todos, independente de sua condição social, têm seu valor e o direito de expressar opiniões”, conta a diretora.

Na prática, quando há algum conflito dentro da escola, as duas partes são chamadas pela diretora para uma espécie de “audiência”, a exemplo das tentativas de conciliações realizadas nos tribunais. Cada um conta sua versão do episódio, apresenta suas propostas para solucionar a questão e um acordo que satisfaça as duas partes é assinado para que a violência não se repita. Antes, a primeira providência da escola era chamar a Polícia Militar ou o Conselho Tutelar. Agora, só em último caso.

Diretores criam rede de parceiros pela paz

A Assembleia Legislativa, a Defensoria Pública e a Secretaria de Estado da Educação formam os pilares sobre o qual o Forpaz se sustenta. O movimento teve início em 2007, na Defensoria, mas ganhou força em 2011, com o envolvimento da ALMG. O Legislativo mineiro promoveu, ao longo de cinco meses no ano passado, o Fórum Técnico Violência nas Escolas – por uma Cultura de Paz. Atendendo às propostas apresentadas neste Fórum, foram destinados os recursos necessários na revisão do PPAG para que, em 2012, seja cumprido um calendário de encontros regionais.

“A proposta dos encontros regionais, da qual me orgulho de ter sido a autora, nasceu de um pedido de socorro dos municípios para lidar com a violência nas escolas. Só foi possível porque eles puderam se manifestar na Assembleia. Isso se reverteu em medidas concretas por meio da revisão do PPAG, que às vezes parece um assunto muito técnico, distante do cidadão, mas pode e deve influir positivamente nas comunidades”, destaca a assessora para o Forpaz na Secretaria de Estado da Educação, Arlete Gonçalves Lages.

Segundo a assessora, outras orientações do Forpaz são a articulação em rede das escolas e a sensibilização para uma dimensão maior do problema. A ideia é que a escola crie uma lista de parceiros que possam ser acionados rapidamente, sempre engajados na prevenção e no enfrentamento da violência. Com os fóruns regionais, os educadores aprendem rapidamente a identificá-los. Yolanda destaca, entre seus muitos colaboradores, o Grupo Especializado de Policiamento em Área de Risco (Gepar), da Polícia Militar: “É um tipo diferente de polícia. Até nas aulas de fanfarra para as crianças eles me ajudam”.

“Se a violência chegou à escola é porque ela também está na sociedade. Só a atuação da polícia não vai dar conta e cada parceiro da escola desempenha seu papel”, explica a defensora pública Roberta de Mesquita Ribeiro, coordenadora do Forpaz na Defensoria. Dona Yolanda faz coro: “Essas parceiras me permitem trabalhar mais tranquila. Quando os criminosos perceberam que o clima aqui mudou, nos deixaram em paz”, comemora.

Um novo aluno – E se a revisão do PPAG mudou a Escola Estadual Nossa Senhora do Sagrado Coração, por tabela mudou também as perspectivas de um de seus alunos, o adolescente Vinícius Silvestre Felipe, 14 anos, do 7º ano do Ensino Fundamental. Nesse ponto concordam tanto Dona Yolanda, quanto a mãe do adolescente, a cobradora de ônibus Evanilde Pinto Silvestre, 31 anos, moradora do Bairro São Luís, vizinho à escola. “Ele foi crescendo e ficando muito revoltado. Ficou violento e chegou a quebrar as coisas aqui em casa. Tudo culpa das más companhias. A escola fez ele voltar a ser aquele menino bom. Ele agora até toca na fanfarra”, afirma Evanilde.

A mãe de Vinícius é separada do marido e cuida ainda da irmã de Vinícius, de 12 anos. Do seu jeito simples, Evanilde associa as mudanças no comportamento do filho à diminuição do problema da violência. “O Vinícius sempre estudou lá, mas a escola tinha muitos meninos 'custosos', difíceis de lidar. Com o tráfico de drogas em todo lugar, era muita tentação. Mas a Dona Yolanda deu um jeito neles e agora ela e o Vinícius são superamigos. Você precisa ver o jeito que ele fala dela”, aponta.

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